Quem decide o que é SteamPunk?
A beleza está nos olhos de quem vê… e o significado também…
Uma das coisas mais interessantes acerca da produção cultural é o fato de que o espectador, independente das intenções do autor de uma obra, resignifica aquilo que está observando.
O próprio SteamPunk é um construto, uma perspectiva muito atual, uma forma de olhar para o passado e imaginar um momento histórico que jamais aconteceu.
Mais que isso, autores como Julio Verne jamais sequer poderiam ter escutado o termo SteamPunk e, no entanto, suas obras são comumente associadas a este sub-gênero da Ficção Científica.
É muito comum, em discussões apaixonadas ou não, que se discorde sobre o que é e o que não é SteamPunk, uma vez que há espectadores mais puristas e espectadores menos puristas.
Freqüentemente os envolvidos com o movimento SteamPunk ouvem perguntas como “O que é SteamPunk?”. Para além das mais diversas definições, seja da Wikipedia, do SteamPunk.com.br ou do SteamPunkBrasil.com, existe o ponto de vista de quem está olhando para a obra.
Sempre vai haver discussão acerca de se algo é Hard Science Fiction ou não, se Science Fantasy é ou não um gênero em si mesmo ou um sub-gênero, e toda sorte de discordâncias a esse respeito. Cultura, contudo, não é tanto sobre seu conjunto de definições quanto acerca de descoberta, fruição e conhecimento.
É bastante comum que blogs como o SteamPunk.com.br ou o BoingBoing – do escritor de Ficção Científica Corey Doctorow – causem afronta aos mais puristas.
A discussão é, porém, tão infrutífera quanto se a banda tal é ou não Rock Progressivo, se a Bíblia é ou não literal ou o sobre o que é Arte.
Todas estas questões são interessantes se levadas em um nível desapaixonado e indo além das definições “almanáquicas” ou de dicionário.
Filmes passados na década de 40, 50 e 60 podem ter elementos e influência SteamPunk?
Em “HellBoy”, que começa na Segunda Guerra Mundial, a influência estética do gênero é muito forte e está não só a serviço da narrativa, mas faz parte da “paleta” com a qual o artista pinta o resto do filme.
É claro para todos que não houve guitarra, computador com tela de LCD ou arma de raios na Era Vitoriana. Entretanto, o SteamPunk é muito menos uma definição e muito mais uma ferramenta a serviço da produção de subjetividade, seja ela um filme, uma ilustração ou um dispositivo eletrônico.
É claro também que, independente da referência estética Vitoriana, o SteamPunk não precisa se passar na Era Vitoriana, do contrário “Metrópolis”, “Hellboy” e “Rocketeer” não poderiam ser listados dentre os filmes inspirados em SteamPunk.
É fato, inclusive, que muitas das obras associadas hoje com a proposta estética SteamPunk nasceram antes mesmo do termo sequer ser cunhado, o que significa que o autor jamais teve a intenção de se alinhar com isso ou com aquilo.
A intenção do autor, apesar de ser uma ótima bula e uma demonstração da genialidade de quem assina a obra, é mero epifenômeno diante da resignificação empreendida pelos espectadores, que vão resignificar e fruir a obra muito depois da morte do autor e do esquecimento da posologia por ele decidida.
Não há, enfim, uma junta diretora que defina o que é SteamPunk. As definições existentes são somadas a flexibilidade cognitiva de cada um para gerar uma diversidade de perspectivas da realidade, como é com tudo mais na vida.
Se você quiser então saber “O que é SteamPunk”, dê uma lida aqui, ali e acolá, mas depois de ler as definições, liberte-se delas.
Definições mostram o caminho, mas ficam no caminho e acabam engessando a imaginação.