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Nikola Tesla ~ Biografia - SteamPunk
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nov 14 2008

Nikola Tesla ~ Biografia

Tantos epítetos acompanham a figura do croata naturalizado americano Nikola Tesla que o do título acima torna-se apenas mais um: “O Gênio que Iluminou o Mundo”, “O Santo Patrono da Eletricidade Moderna”, “O Pai da Física”, “O Homem que Inventou o Século XX”, “O Gênio Pródigo”, “O Mestre da Ionosfera”, “O Criador da Segunda Revolução Industrial”, entre outros. A eletricidade como nós conhecemos e utilizamos é atualmente gerada e trasmitida graças às invenções de Tesla, cuja maior conquista – o motor de indução por corrente alternada – é a responsável pela iluminação de todo o planeta.

E, curiosamente, não é dos nomes de inventores mais conhecidos entre o público leigo – nomes como Thomas Edison chegaram muito mais facilmente aos ouvidos da massa. No entanto, em recente votação promovida pela Discovery Channel, ficou entre os 100 maiores americanos de todos os tempos. A Life Magazine, em 1997, nomeou Tesla como um dos 100 homens mais famosos do último milênio. Durante o seu auge, ocorrido no fim do século XIX, Tesla era o inventor e físico mais conhecido da América do Norte, quiçá do mundo.

Recentemente, a figura de Tesla vem sendo ressuscitado no cinema e literatura, trazendo um renovado reconhecimento daquele que foi um dos homens mais geniais da história: filmes como “O Grande Truque”, onde o cientista é interpretado por David Bowie (e é responsável pelo toque Steampunk do longa), e livros como “Tudo Se Conta”, de Toni Jordan, onde a personagem principal tem Tesla como ídolo, contribuem fortemente para essa merecida fama.

A Juventude

Nikola Tesla nasceu no dia 10 de julho de 1856 em Smiljan, parte à época do Império Austro-Húngaro, na região onde hoje fica a Croácia. Filho de um padre sérvio ortodoxo, Milutin Tesla, e uma inventora (cujo trabalho era aplicado a serviços domésticos), Djuka Mandic, estudou na Realschule em Karlovac, no Instituto Politécnico de Graz (hoje na Áustria) e na Universidade de Praga (República Tcheca). Inicialmente sua intenção era se especializar em física e matemática, mas logo ficou fascinado com eletricidade.

Começou sua carreira como um engenheiro elétrico em uma companhia telefônica em Budapeste, em 1881, e foi lá que, ao caminhar pelo parque municipal com um amigo, a solução para o problema do campo magnético girante (um princípio físico fundamental e que futuramente seria a base para praticamente todos os aparelhos que se utilizam de corrente alternada) veio como um lampejo a sua mente. Desenhando diagramas na areia, Tesla explicou a seu amigo o seu brilhente princípio, e como ele poderia ser aplicado na construção de um motor de indução. Depois de Budapeste, Tesla se juntou ao Continental Edison Company em Paris, onde basicamente projetava dínamos. Em 1883, ele construiu, de forma bem sucedida, um protótipo do seu motor de indução. No entanto, não conseguiu atiçar o interesse de ninguém na Europa; por isso, aceitou a oferta de trabalhar para Thomas Edison em Nova York – seu sonho de infância era ir aos Estados Unidos para utilizar o poder das Niagara Falls.

Charles Batchelor, ele próprio um brilhante inventor, enviou uma carta de apresentação em 1884 a seu colega Thomas Edison, na qual dizia: “Eu conheço dois grandes homens: um é o senhor, e o outro é este jovem”. O jovem era Nikola Tesla, tímido mas confiante, que chegava a Nova York, onde moraria pelos próximos 59 anos.

AC/DC: A Guerra das Correntes

Após melhorar a linha de dínamos de Edison, em seu laboratório, começou a grande divergência entre Tesla e Edison quando ao uso de corrente alternada ou direta. Este desentendimento resultou na chamada “Guerra das Correntes”, onde Edison lutou uma batalha perdida para desesperadamente proteger seu investimento em equipamento e instalações que se utilizavam de corrente direta.

A idéia para os motores e sistemas elétricos de Tesla foi apresentada por ele em 1888 em um artigo científico clássico, intitulado “A New System of Alternating Current Motors and Transformers”, ao Instituto Americano de Engenheiros Elétricos. O industrialista e inventor George Westinghouse foi um dos mais impressionados – mais ainda após uma visita ao laboratório de Tesla, onde viu um modelo de sistema multifásico consistindo de um dínamo de corrente alternada, transformadores e um motor AC. Começava aí a parceria perfeita entre os dois, que resultou na utilização em escala nacional da eletricidade.

Tesla demonstrou a falta de eficiência das casas de força de corrente direta que Edison construiu ao longo do litoral leste dos E.U.A. O segredo, dizia ele, era usar corrente alternada, pois para ele todas as energias eram cíclicas. De fato, as lâmpadas de Edison eram fracas e ineficientes quando alimentadas por corrente direta, além de seu sistema ter a desvantagem absurda da corrente não poder ser transportada para além de duas milhas devido a sua impossibilidade de se empregar a alta voltagem necessária para transmissões a longas distâncias. Isso fazia com que, consequentemente, uma estação de força era necessária a cada duas milhas. Isto porque a corrente direta flui continuamente em uma direção, enquanto corrente alternada muda de direção entre 50 e 60 vezes por segundo, e pode ser levada a valores muito altos de voltagem, minimizando a perda a longas distâncias – o futuro pertencia à corrente alternada.

A guerra aconteceu porque Edison não quis perder seu império de corrente direta (DC), enquanto Tesla, após desenvolver sozinho um sistema multifásico de geradores de corrente alternada (AC) e registrar 40 patentes sobre ele (compradas por George Westinghouse, determinado a suprir os Estados Unidos com o sistema inovador de Tesla), demonstrou ser o DC um sistema ultrapassado, enquanto o seu era tecnologicamente melhor. E isso resultou, mesmo com todo o poder e a influência política, em uma vitória para Tesla e Westinghouse – e para o progresso mundial.

As Conquistas de Tesla

Tesla admirou o mundo ao demonstrar, na World Columbian Exposition de Chicago (em 1893), as maravilhas da corrente elétrica alternada, que viria a se tornar o padrão no século XX.

O motor de indução AC é hoje utilizado largamente no mundo inteiro, com aplicações tanto industriais quanto residenciais. A sua distribuição iniciou a revolução industrial na virada dos séculos XIX e XX, e mudou o mundo, sendo considerada uma das dez maiores invenções de todos os tempos.

Em 1895, Tesla projetou a primeira hidrelétrica do mundo para geração de corrente alternada (e a terceira geral) em Niagara Falls, a qual foi a sua vitória final – e durante muitos anos a maior do mundo. O feito foi divulgado mundialmente na imprensa, e Tesla foi elevado à condição de herói – a ponto do Rei Nikola de Montenegro conferir a Tesla a Ordem do Danilo.

Mas Tesla era um pioneiro em muitos campos, não apenas na eletricidade, tendo mais de 700 patentes registradas em seu nome. A bobina Tesla, inventada por ele em 1891 (ano que ganharia a cidadania americana), é largamente utilizada hoje em dia em rádios, televisores e outros equipamentos eletrônicos, sendo considerado o pai do rádio e dos sistemas de transmissão modernos. Entre suas descobertas estão a luz fluorescente, o raio laser, comunicações sem fio, transmissão de energia elétrica sem fio, controle remoto, robótica, turbinas e veículos aéreos com decolagem vertical. Sua visão incluía ainda a exploração da energia solar e do poder dos oceanos. Ele previu comunicações interplanetárias e satélites artificiais.

Seus princípios de telegrafia sem fio foram publicados no Century Magazine em 1893. Em 1896, na Electrical Review, foram publicadas imagens de raio-X de um homem, feitas por Tesla com um aparelho de design próprio. Elas apareceram na mesma época que Roentgen anunciou sua descoberta de raios-X. Tesla e Roentgen nunca brigaram por prioridade – Roentgen parabenizou Tesla pela sofisticação de suas imagens, enquanto Tesla chegou a escrever o nome de Roentgen em um de seus filmes de raio-X. Durante esses experimentos, Tesla inventou o tubo de vácuo especial emissor de luz, que é usado em fotografia.

O sistema básico do rádio foi patenteado em 1896 por Tesla (baseado em trabalhos próprios, bem como de Maxwell, Hertz e Logde), com diagramas esquemáticos descrevendo todos os elementos básicos do transmissor por rádio que seriam posteriormente usados por Marconi, que se apropriou dos projetos de Tesla para estabelecer a primeira comunicação sem fio através do Atlântico em 1901, ganhando o Nobel por isso em 1909. No entanto, a primeira transmissão sem fio foi conseguida por Tesla cinco anos antes entre dois pontos distantes dentro da cidade de Nova York, tanto que a Suprea Corte dos Estados Unidos, em 1943, considerou a patente de Marconi inválida. Seus princípios foram utilizados pela Lowenstein Radio Company (sob licença da patente de Tesla) para instalar rádios de comunicação em embarcações navais militares americanas desde antes da primeira guerra mundial.

Em 1899, Tesla construiu uma estação experimental em Colorado Springs, para estudar alta tensão, eletricidade de alta freqüência e outros fenômenos. Quando o transmissor amplificador da bobina Tesla da antena externa era energizado, criava fagulha de até 10 metros de comprimento, que podiam ser vistas a uma distância de até dez milhas.

Tesla ficou lá por pouco menos de dois anos, mas lá fez a descoberta que considerou a mais importante da carreira – as ondas estacionárias terrestres. Com essa descoberta, ele provou que a Terra podia ser usada como um condutor elétrico, podendo ser utilizada como um diapasão para as vibrações elétricas de uma certa freqüência. Ele também acendeu 200 lâmpadas sem fios a uma distância de 40 km e criou o raio artificial. Ele chegou a acreditar que recebeu sinais de outros planetas em seu laboratório, mas isso foi largamente desacreditado.

O antigo hotel Waldorf Astoria foi a residência de Nikola Tesla durante muitos anos, onde viveu no auge de seus poderes intelectuais e financeiros e organizava jantares elaborados, convidando pessoas famosas que testemunhavam experiências elétricas espetaculares em seu laboratório.

Tesla, Morgan e Wardenclyffe

John Pierpont Morgan era um investidor, bancário e colecionador de arte americano que dominava o corporativismo financeiro e a consolidação industrial de sua época, chegando a promover a junção da Edison General Electric e da Thompson-Houston Electric Company, formando a General Electric. Diz-se que Morgan salvou a economia norte-americana por duas vezes na virada do século. Ele tinha uma suíte presidencial exclusiva no Titanic, mas cancelou no último minuto a sua presença na viagem inaugural. Este poderoso homem se interessou pelo trabalho de Tesla em 1900.

Com o suporte financeiro de Morgan, Tesla construiu o laboratório Wardenclyffe, e sua famosa torre de transmissão, em Shoreham entre 1901 e 1905. A torre tinha impressionantes 57 metros de altura e um domo de 21 metros de diâmetro, feito de cobre, que continha um transmissor amplificador. Segundo planejado, seria o primeiro sistema de broadcasting do mundo, transmitindo tanto sinais quanto energia sem fios para qualquer ponto do globo, transformando a Terra em um dínamo gigante que poderia projetar sua eletricidade em quantidades ilimitadas em qualquer lugar do mundo.

O conceito de Tesla permitiria energizar transatlânticos, destruir navios de guerra, administrar indústrias e sistemas transportes e enviar comunicações instantaneamente através do planeta. Para estimular a imaginação do público, Tesla sugeriu que seria possível até mesmo comunicação interplanetária. Muitos jornais e periódicos entrevistaram Tesla e descreveram o seu novo sistema de alimentar toda a indústria do mundo sem utilizar fios.

No entanto, Morgan no fim acabou retirando seus fundos. A disputa entre Morgan e Tesla sobre a utilização da torre culminou na célebre frase do investidor: “se qualquer um pode tirar energia da torre, onde nós instalaremos o medidor?”.

Para a frustração de Tesla (a maior de sua vida), a torre ficou incompleta até 1917, quando foi destruída por razões de segurança durante a primeira guerra mundial. O local onde a torre de Wardenclyffe estava ainda existe, com as fundações intactas.

A Comunidade Científica

Tesla deu palestras à comunidade científica sobre suas invenções em Nova York, Filadélfia e St. Louis, e ante organizações científicas tanto na Inglaterra quanto na França, em 1892. Essas palestras, bem como seus artigos na década de 1890, causaram larga admiração entre seus contemporâneos e ajudaram a popularizar suas invenções, inspirando muitos jovens a entrar o novo campo de ciência elétrica e de rádio.

Ele escreveu muitos artigos autobiográficos para o proeminente periódico Electrical Experimenter, que depois foram reunidos em um livro, intitulado My Inventions. Um de seus dons era grandes poderes de visualizações e uma memória excepcional, possibilitando a ele construir, desenvolver e aperfeiçoar suas invenções completamente em sua mente antes de passá-las para o papel.

A celebridade de Tesla na virada do século estava no auge: ele era o superstar do momento, com suas descobertas, invenções e visão tendo aceitação geral pelo público, pela comunidade científica e pela imprensa, com intensa cobertura pelos periódicos científicos, pelos jornais diários e semanais e nas mais importantes publicações literárias e intelectuais da época.

Em 1894, recebeu os títulos de doutorado honorário tanto pela Universidade de Columbia quanto por Yale, além da medalha Elliot Cresson, concedida pelo Instituto Franklin. Em 1934 recebeu da cidade de Filadélfia a medalha John Scott pelo seu sistema multifásico. Tesla era um membro honorário da National Electric Light Association e um participante da American Association for the Advancement of Science.

Em 1915 foi noticiado pelo New York Times que Tesla e Edison iriam dividir um Prêmio Nobel de Física, mas nenhum foi agraciado. Os motivos nunca foram descobertos, mas rumores indicam que Tesla recusou porque não dividiria um prêmio com Edison e porque Marconi já havia recebido o que era seu por direito.

No seu aniversário de 75 anos (em 1931), quando apareceu na capa da revista Time, recebeu cartas de cumprimentos de mais de 70 pioneiros na ciência e engenharia, incluindo Albert Einstein e Mark Twain.

Morte e Homenagens Póstumas

Nikola Tesla faleceu no dia 7 de janeiro de 1943 no Hotel New Yorker, onde morou nos últimos dez anos de sua vida. Um funeral foi realizado na Catedral St. John the Divine, em Nova York, com mais de 2000 presentes, incluindo alguns prêmios Nobel. Foi cremado e suas cinzas encontram-se em uma esfera de ouro, sua forma favorita, no Museu Tesla em Belgrado.

Sobre Tesla, o Vice Presidente Behrend do Instituto de Engenheiros Elétricos disse o seguinte: “Se nós eliminássemos do mundo industrial os resultados do trabalho do Sr. Tesla, as rodas da indústria cessariam sua rotação, nossos carros e trens elétricos parariam, nossas cidades se escureceriam e nossos moinhos estariam sem uso e mortos. Seu nome marca um ponto crucial no avanço da ciência.”, concluindo com uma paráfrase do poema de Alexander Pope em homenagem a Newton: “Nature and nature’s laws lay hid by night / God said ‘Let Tesla be’ and all was light” (“A natureza e suas leis estavam escondidas na noite / Deus disse ‘Faça-se Tesla’ e tudo se iluminou”).

Tesla e o Steampunk

Tesla é relacionado ao mundo Steampunk por diversos motivos. O primeiro deles é a época em que viveu – o final do século XIX e o início do XX. Além disso, foi ele o responsável por todas as inovações tecnológicas que nós, amantes do cenário Steampunk amamos tanto no que diz respeito a eletricidade – basicamente toda a tecnologia não-vapor dos cenários steampunk tem a influência direta dos trabalhos de Tesla.

Fora que sua visão absolutamente inovadora e futurista para a época o colocam quase como um personagem de certas ambientações do gênero (quem imaginaria que alguém pudesse supor estar recebendo comunicações de outros planetas em pleno fim do século XIX??). Imaginar as fagulhas saindo do alto de sua antena em Colorado Springs, a construção da torre Wardenclyffe ou os experimentos realizados para seus convidados após um jantar no Waldorf Astoria são como imaginar cenas de um filme de ficção científica vitoriana. Tanto que o personagem interpretado por David Bowie em “O Grande Truque” tem um ar místico-tecnológico não muito longe da realidade (apesar de sua invenção no filme, a máquina de clonagem, o ser).

Nenhuma outra figura do século XIX engloba tão fortemente o estilo, a tecnologia, o jogo de cena e a mistura de genialidade e mágica que Tesla projetava. E por isso, não há nenhum cientista tão Steampunk quanto Nikola Tesla.

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O autor

Lucas Sigaud é bacharel e mestre em física pela PUC-Rio, e está concluindo seu doutorado em física estatística teórica. Trabalha também na área de colisões atômicas na UFRJ, onde estuda a interação de elétrons com gases como água, amônia e CFCs. Além disso, é redator do site OutraCoisa.com.br e escritor.


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Lucas Sigaud
lucassigaud@steampunk.com.br