Moda SteamPunk
Que a cultura Steampunk tem marcado presença e crescido nos ramos da Literatura e do Cinema, todos já sabem. Porém, agora, a idéia e as peculiaridades do movimento tem tomado seu espaço também na moda e no cotidiano. Claro que no Brasil isso está apenas começando, mas em países do exterior, o Steampunk já se manifesta em diversas vertentes, como design de jóias, vestuário, músicas, dança e até mesmo festas, exposições e casamentos. Os assuntos são tantos que são necessários diversos artigos para poder mostrar e detalhar cada uma das coisas. Neste, no entanto, vamos tratar sobre apenas um deles e, talvez, o mais popular, especialmente no nosso país: A moda e a criação de visuais Steampunk.
Assim como nos Estados Unidos, nós, brasileiros, temos diversos eventos culturais para jovens e entusiastas de algum gênero. Seja encontro de fãs, de fóruns, ou eventos mais elaborados que acontecem anualmente, como os eventos de animação japonesa, que reúnem centenas de pessoas que costumam praticar um hobby chamado Cosplay. O termo vem da união das palavras em inglês “Costume” e “Play”, ou seja, brincar de se vestir de alguma coisa, de se fantasiar. Começada com Star Wars, nos Estados Unidos, a prática se alastrou para o Japão, onde ficou mais popular, e chegou ao Brasil pelas bandas dos anos 90, crescendo e ganhando seu espaço. Entre os fãs de animação e ficção científica, o conhecimento do hobby ou sua prática, é bem popular e, por conta disso, a moda e os visuais Steampunk também começaram a surgir, de poucos anos para cá, crescendo mais e ganhando mais fãs ao longo do tempo.
E como funciona transformar um gênero de ficção em vestimentas?
A moda nada mais é que uma forma de tradução e de expressão através das roupas. Por conta disso, a moda Steampunk desce até a essência do gênero, buscando ali a inspiração necessária para a criação de modelos e peças. O cenário Steam é essencialmente britânico, por conta da Revolução Industrial, que começou em Londres no século 18, passando pelo século 19, num período de diferentes regências, conhecidos como Era Georgiana e Era Vitoriana, cada qual com suas próprias peculiariades.
[nggallery id=25]As vestes da Era Georgiana/Período Regência (1714 – 1837), por exemplo, trazia para as damas desde vestidos marcados logo abaixo do busto, até o início do uso dos corsets, de decote reto e baixo, criando uma cintura fina e os quadris largos, com saias cheias e armadas. Para os cavalheiros, a cartola era essencial, assim como fraques por cima de camisas de gola alta e calças colantes por dentro de botas até o joelho. Já a Era Vitoriana (1837 – 1901) trazia para as mulheres vestidos mais fechados, porém com o tronco bem marcado por corsets e saias mais justas na frente, formando pregas, mas com o uso das anquinhas para ressaltar a parte de trás dos quadris. Os homens usavam coletes, capas, lace jabot e outras gravatas clássicas, fraques acinturados e, claro, cartolas.
[nggallery id=26]Porém, estamos tratando aqui de moda Steampunk e não da moda clássica que existiu na nossa história. Por conta disso, tomamos o original como base e usamos acessórios para complementá-los, exatamente como se faz na ficção. Pelo gênero ter uma tecnologia avançada e um mundo muito mais movido ao vapor, os maquinários entram nas peças do vestuário, formando um visual muito mais condizente com essa nova versão da Revolução Industrial. Ao invés de serem apenas roupas, a vestimenta acaba por caracterizar um tipo de personagem. Por exemplo, uma garota que utiliza o modelo de um vestido vitoriano, estiliza o corset, colocando diversas fivelas, detalhes com rebites, engrenagens e um cinto de utilidades com armas, binóculos e engenhocas num geral, deixa de ser apenas uma jovem dama inglesa e se torna uma mercenária, por exemplo.
[nggallery id=27]A partir daí, a criação e a criatividade é por conta de quem vai vestir a roupa. Uma das coisas mais importantes sempre é pensar o que exatamente o conjunto da obra irá representar. O que isso quer dizer? A idéia de um personagem para aquela veste. Se a roupa irá representar um inventor, um aventureiro, um caçador, um mercenário, um cientista, um pirata, um ferreiro, enfim, aquilo que mais agrada o criador da roupa. Isso também facilita para pensar que tipo de acessórios ou peças serão necessárias e confeccionadas. Ao ter isso decidido, até mesmo o modelo da roupa fica mais simples de se escolher, assim como os tecidos que serão utilizados e suas devidas modificações. Uma aventureira, por exemplo, não poderia se meter em diversas situações usando um vestido de porte enorme, com enchimentos e anquinhas. Em casos como esse, a criadora da roupa pensaria em como adaptar, pensando em como deixar as pernas mais livres, para caso tivessem que correr para pular em um trem em movimento. O mesmo vale para os cavalheiros. Nenhum cientista usaria seu melhor terno de linho fino para testar suas experiências com eletricidade e química. É por isso que tendo a idéia geral do tipo de gênero de personagem e roupa que agrade, é mais fácil construir todo o resto.
Quer dizer que só existe moda Steampunk baseada na moda Londrina?
De forma alguma. Apesar do gênero ter sido criado a partir dessa base, ele possui uma estrutura que o permite ser utilizado em diversos outros lugares, como no Brasil, que pode ser visto até na compilação de contos de escritores brasileiros (Steampunk – Histórias de Um Passado Extraordinário) e no famoso Velho Oeste, uma das vertentes muito populares no Steampunk, também por causa de Wild Wild West, regravado em filme em 1999. Na verdade, não há restrições para a aplicação do Steampunk na História de um país, tudo depende da imaginação do criador da história, do personagem e, claro, das vestimentas. Apesar de ter sido um movimento essencialmente europeu, nada impediria, por exemplo, da existência de Steampunk no Japão, tomando pelo gancho a abertura dos portos do país para o ocidente em 1868. Um samurai com acessórios de metal e katanas tecnológicas misturado ao kimono seria algo realmente interessante de se ver, assim como vestes coreanas e chinesas também com influência da tecnologia do vapor. E por que não também as tribos indígenas americanas durante o Velho Oeste com influencia Steampunk? Com os penachos, as franjas e engrenagens?
[nggallery id=28]A moda existe ao longo da imaginação, porém a única coisa que se deve tomar sempre cuidado é a época, os anos e as eras, já que na ficção é clara a referência do início da Revolução Industrial e, após isso, acaba por se tornar Dieselpunk.
Tudo bem, então o visual Steampunk é, na maioria, inspirado na Europa, especialmente em Londres, mas pode-se também ter outras adaptações livres de acordo com a imaginação. Mas e os acessórios?
Os acessórios também são livres. O gênero prega uma tecnologia muito mais avançada do que a realmente alcançada da nossa História, portanto todo tipo de criação é aceita, contanto que movida ao vapor, como se tivesse mesmo sido realizada naquela época. Porém, entre os fãs e os praticantes dessa moda Steampunk, alguns acessórios são mais famosos, como os goggles (óculos de proteção), armas a laser, propulsores em mochila para as costas, partes mecânicas no corpo e até mesmo asas de metal. Tudo é geralmente banhado no ouro velho, com aparência envelhecida, com engrenagens e milhares de partes, como se todas tivessem sido feitas à mão. A aparência de “geringonça”, com botões e dezenas de peças para “fazer funcionar” é bem normal. Muitos também adaptam relógios, bússolas e outros instrumentos de direção, assim como binóculos e ferramentas. Para cientistas e inventores também é comum uso de garrafas com aparência de antigamente, diversas vezes feitas a partir de antigos frascos de remédio.
[nggallery id=29]A dica, sempre, é dar asas à imaginação e buscar referências, não apenas de como funciona no original, mas também buscar outras pessoas que talvez já tenham feito aquilo, para ter mais idéias visuais e fazer alguma coisa ainda mais legal. A moda Steampunk é deliciosa de se explorar, por conta de todas as idéias que podem ser expressas nela, e a riqueza de detalhes deixa tudo ainda mais bonito. Por isso, pesquisar bastante é sempre o ideal, e fazer o máximo possível dentro de seus próprios limites. Assim, as roupas ficam ainda mais elaboradas, passando toda a idéia que se tem em mente, trazendo ainda mais satisfação na hora de se vestir e se divertir.
A autora
Dana Guedes (@dana_aoi) é de São Paulo, é escritora amadora, tem formação em Design Editorial e é entusiasta do gênero e do movimento SteamPunk.
Diligente, Dana Guedes foi uma das primeiras pessoas a contatar o Conselho SteamPunk acerca da iniciativa Literária aoLimiar e a ajudar a conceituar a Rede Social de Editoras, Escritores e Leitores de Literatura Fantástica.
Fotos nacionais do Núcleo SteamPunk de Bragança Paulista.
Design de Moda por AnnRose