SteamPunk ~ Corsets
Também conhecido no Brasil como Espartilho, o corset é praticamente a peça-chave de quase todo visual feminino (e às vezes até mesmo masculino) da temática Steampunk, por ser inspirada na moda durante o Período Regência e a Era Vitoriana. Porém, a história do espartilho começa muito antes do fervor das máquinas à vapor em Londres.
Em 2000 a.C, os habitantes da ilha de Creta já descreviam uma deusa-cobra que vestia uma roupa apertada, que dava suporte ao busto e tinha anéis de couro que acentuavam a cintura. Mas os registros só começam mesmo a partir do século XIII, com o uso de armações e amarras atados à veste para ajudar a compor uma silhueta mais esguia. No século XVI, o espartilho tomou mais a forma a qual conhecemos atualmente. Um colete usado sob os vestidos que terminava na linha da cintura, porém sem a intenção de afiná-la. A função desses corsets era dar uma aparência rígida ao corpo da mulher, endireitando sua postura, mas achatando o busto, fazendo com que empinasse um pouco e aparecesse apenas delicadamente sobre o corset. Não suficiente, uma fina placa de madeira era inserida na frente, através de um pequeno espaço na peça, ajudando a manter o corpo e a veste no lugar. A completa silhueta se dava com o resto do vestido. Naquela época, eles eram corpulentos e volumosos, não apenas na saia, mas também nas mangas e no pescoço, feitos a partir de tecidos pesados e grossos, até mesmo peles de animais.
Desde essa época até a Era Vitoriana, o espartilho sofreu poucas alterações. Fisicamente ele era mais confortável, não restringindo tanto a respiração e servindo mais como um suporte para o busto, tanto que, durante o século XVIII, muitas mulheres trabalhavam com eles e usavam uma peça mais curta, conhecida como “short stay” que muito se assemelha aos sutiãs de hoje em dia. Houve, durante os meados de 1780 até mesmo a volta da valorização das curvas naturais.
Foi apenas durante o período Regência, na fase de transição para o que seria o Vitoriano (Nos anos 1820) que o corset voltou com tudo, ainda com mais funções que seus predecessores. A silhueta ereta e rígida, assim como o contraste do busto com a cintura fina passaram a ser o novo modelo ideal feminino. As saias voltaram a ser encorpadas como no século XVI, fazendo o corpo parecer uma ampulheta. A partir daí, o uso do espartilho tomou proporções ainda maiores, com armações de aço e curvas ainda mais acentuadas (a cintura bem fina e o quadril largo), além do uso também para crianças, para corrigir a postura desde jovem.
Uma vez que que o corset voltou à moda, não saiu mais. Se extendeu por toda a longa era Vitoriana, as saias fartas viraram anquinhas, o modelo bufante dos vestidos deu espaço para os mais elegantes e esguios da Era Edwardiana e ele ainda estava lá. Com a cintura mais baixa, mas ainda assim mantendo a postura e as curvas femininas.
Com mais uma virada de século, dessa vez para o XX, o corset sofreu uma mudança drástica, não por conta da moda, mas sim por causa da guerra. Com a 1ª Guerra Mundial, as indústrias de aço deixaram de ter o foco na peça, para produzir armas e suplementos para o combate. O espartilho foi substituído por lingeries de materiais mais baratos, como sutiãs comuns e corselettes, e a nova posição da mulher no pós-guerra ajudou o corset a cair em declínio. Nos anos 1920 a silhueta Vitoriana já não existia mais e a cintura era apenas demarcada por cintas elásticas.
Apesar da peça cair em desuso, na função básica diária, ela tem sido resgatada por grandes estilistas de moda desde os anos 1980, se tornando parte não apenas das passarelas, mas como influência para novos acessórios e lingeries. O corset também se faz presente em matéria de fetiches e movimentos de rua, como o gótico e, claro, o Steampunk.
Atualmente, a idéia do Tightlacing também tem voltado às mulheres contemporâneas. A prática foi criada em 1840 e nada mais é que o uso constante de corsets estruturados como antigamente, para o afinamento da cintura. Algumas lojas especializadas confeccionam os espartilhos ideais para o tight-lacing. O recomendado é o feito sob medida, com 10cm a menos que sua cintura original, feito em tela ou qualquer outro material que permita a pele respirar e que permita a movimentação sem desconfortos, por isso o mais adequado é o underbust (sob o busto) ou o que fica apenas ao redor da cintura, tudo sob a roupa, como uma lingerie.
Porém, o tightlacing requer cuidados. Desde as épocas mais remotas do corset, especialmente na Era Vitoriana, os médicos já ficavam de cabelo em pé sobre o uso demasiado de espartilhos. Isso porque o corset, quando começa a moldar a estrutura do corpo, afeta a estrutura óssea e a posição dos órgãos, causando uma porção de problemas se não usados com cautela, como desmaios, respiração arfada e outros inconvenientes por conta do deslocamento do fígado e a redução do estômago. Além disso, se muito fina, a cintura pode comprometer a coluna.
A prática do Tightlacing deve ser feita com bom senso, por uma pessoa saudável (diabéticos, pessoas com problemas respiratórios e de coluna estão dispensados) com materiais de boa qualidade e um bom acompanhamento, depois de uma longa pesquisa.
Quer dizer então que eu posso usar o meu corset do Mercado Livre para fazer tightlacing?
De jeito nenhum, por um motivo bem simples. Com a popularização do corset, especialmente no setor de lingeries sensuais, toda uma indústria de “corsets falsos” foi criada. No Brasil, essas peças são comumente chamadas de Corseletes e isso se dá porque elas não apresentam a estrutura de um corset “de verdade”. Os espartilhos ideais são feitos de camadas e camadas de tecidos resistentes, reforçados em partes estratégicas e amarrados nas costas, tendo toda uma armação de aço ou de alumínio por dentro. É por isso que marca tão bem a silhueta, arruma a postura e afina a cintura. Todos os corsets reais tem a estrutura para o tightlacing, mas nem todos são os ideais para a prática, por conta do material, formato, etc. Porém, nenhum Corselete realmente estrutura o corpo humano, eles tem apenas a aparência bonita e são infinitamente mais baratos. Os tecidos usados são, na maioria das vezes, em uma camada só, dando apenas o visual de corset, mas não factualmente enfatizando as curvas ou afinando a cintura, tendo quase sempre barbatanas feitas de plástico.
E quais são os modelos mais comuns existentes hoje em dia?
Underbust: São corsets que começam logo abaixo da linha do busto. Podem ser usados tanto por baixo quanto por cima da roupa, dependendo do material.
Overbust: São os que cobrem o peito. Eles vão inteiro, desde o colo até a linha pélvica.
Midbust: São os modelos que cobrem parcialmente o busto, ficando na altura dos mamilos e enfatizando ainda mais o colo.
E existe mesmo corset para homens?
Definitivamente. O corset masculino, assim como o o feminino, serve para ajustar a postura e deixar a coluna ereta. É normalmente visto em coletes fechados ou em underbust, dando um ar ainda mais elegante para todo o figurino.
Seja em mulheres ou homens, no passado ou nos dias atuais, o espartilho é, sem dúvida, uma peça exótica e charmosa, que usa de uma postura austera para uma exímia elegância, que apenas ele e todas as suas estruturas podem proporcionar. Por isso, no Steampunk, deve-se usar e abusar, criando novos acessórios e penduricalhos trazendo ainda mais beleza a toda estética do vapor.
A autora
Dana Guedes (@dana_aoi) é de São Paulo, é escritora amadora, tem formação em Design Editorial e é entusiasta do gênero e do movimento SteamPunk.
Diligente, Dana Guedes foi uma das primeiras pessoas a contatar o Conselho SteamPunk acerca da iniciativa Literária aoLimiar e a ajudar a conceituar a Rede Social de Editoras, Escritores e Leitores de Literatura Fantástica.