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SteamPunk ~ O Conselho e o Movimento - SteamPunk
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set 02 2010

SteamPunk ~ O Conselho e o Movimento

Bruno Accioly, um dos fundadores do Conselho Steampunk, responde questões a respeito do grupo. Além de reunir fãs brasileiros da vertente literária, o Conselho ainda ministra “Lojas” presentes em diferentes estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sua terra natal. Accioly também é diretor da dotweb.com.br (soluções para marketing digital, mídias sociais e desenvolvimento na web), editor do site de cultura nerd OutraCoisa.com.br e idealizador do portal de literatura fantástica aoLimiar.com.br.

Como e quando foi criado o Conselho Steampunk? O que é exatamente?

Eu havia, em 2007, criado um blog sobre SteamPunk, gênero ainda pouco explorado e comentado no Brasil. Logo em 2008, fui contatado via internet por Raul Cândido, de São Paulo, sobre o site que ele havia acabado de montar e cujo conteúdo era bastante qualificado. Falei com ele por telefone, aqui do Rio de Janeiro, e começamos a conversar sobre como poderíamos unir os sites, colaborar um com o outro.

O Raul Cândido, Carlos Felippe – que nos acompanha desde o início – e eu temos muitas afinidades ideológicas. Ficou claro que todos nós acreditávamos que poderíamos atrair mais entusiastas de outras cidades e estados para um formato de organização que não desse lugar a hierarquias e que, por isso, não fosse sofrer um processo posterior de “balcanização” devido a egos e outras questões que costumam minar este tipo de grupo.

O Conselho SteamPunk nasceu naquele telefonema, tendo como fundamento nossa ideologia, uma robusta infra-estrutura de internet e, é importante ser dito, graças também ao poder de mobilização e entusiasmo de Raul Cândido e Carlos Felippe.

Nossa estratégia era montar uma organização não hierárquica na qual qualquer pessoa em qualquer cidade de qualquer estado do país pudesse montar uma “Loja” (tradução do português para o termo “Lodge”, conforme usado por algumas sociedades secretas). Isso, automaticamente, faria com que os filiados recebessem acesso a uma infra-estrutura de e-mails (@steampunk.com.br) para todos os seus membros, contas de Gtalk (@steampunk.com.br), websites e toda base de conhecimento das duas Lojas primeiramente fundadas (Loja Rio de Janeiro e Loja São Paulo). Tudo unido à toda base que estaria por vir a medida que novas Lojas surgissem.

O Conselho SteamPunk é, essencialmente, um grupo nacional de entusiastas do gênero que se empenharam e conseguiram transformá-lo em movimento no país, muito devido ao fascínio exercido pelo SteamPunk e ao interesse de autores literários e da mídia.

A organização tem como meta inspirar, promover e produzir cultura SteamPunk, além de facilitar sua produção, seja através da internet ou nos meios físicos, dando apoio a todo e qualquer evento cultural que faça referência ao Século XIX e endossando produtos culturais que remetam a esta época.

Por que o Steampunk está dando tão certo hoje, tanto no Brasil quanto no mundo?

O SteamPunk parecia fenecer em todo mundo, como qualquer gênero/movimento que alcança em dado momento um ápice de popularidade e cujos únicos remanescentes acabam sendo os verdadeiros entusiastas que apreciam-no para além das tendências e da moda. De dois anos para cá, o fascínio exercido pelo SteamPunk pareceu ganhar fôlego, talvez devido ao gênero estar alcançando uma maturidade e se estabelecendo como algo que veio para ficar.
Há muitos aspectos do SteamPunk que podem estar contribuindo para isso, mas cito aqui apenas cinco que considero mais importantes.

a) Fascínio – O fascínio exercido pela ficção científica em crianças, jovens e adultos é um fenômeno bastante conhecido. Isso se dá graças ao componente fantástico presente no gênero e no devir de explicação que viabiliza esta fantasia através ciência e tecnologia.

O SteamPunk revisita os primórdios da ficção científica e tenta, através de seus meios e sua proposta estilística, produzir FC, hoje, nos moldes da FC do Século XIX, enriquecendo dramaturgicamente seu teor e transportando o público para uma época que jamais existiu;

b) Semelhança – A obra legitimamente SteamPunk literária, cinematográfica ou de qualquer outra forma de expressão costuma permanecer em dois grandes subgrupos: o SteamPunk Nostálgico e o SteamPunk Melancólico. O primeiro traz uma visão otimista e entusiasmada das conquistas científico-tecnológicas e o segundo uma abordagem crítica acerca de um Século XIX onde a utilização indiscriminada de recursos naturais, a desigualdade social e a relatividade moral representavam um grande problema. Ambas as abordagens remetem diretamente ao mundo em que estamos vivendo, de grande evolução tecnológica e degradação da ética e do moral.

c) Marginalidade – O termo que aplico aqui tem relação com a porção Punk que coincidentemente se imiscuiu na etimologia da palavra e que acabou fazendo sentido por força de quem é entusiasta do gênero.

De alguma forma, o SteamPunk herdou – juntamente com estas últimas quatro letras – alguma porção da rebeldia presente no CyberPunk, este intencionalmente marginal. A marginalidade do SteamPunk está presente, creio, na ausência de um produto ao qual atrelar o gênero (como é o caso de Star Wars ou Star Trek, quando falamos do gênero space opera). O SteamPunk não tem dono e não é uma franquia, mas está presente também na produção individual de moda, acessórios e cultura através de seus entusiastas, que preferem fazer a comprar aquilo que usam – fazendo referência ao movimento político conhecido como Anarquismo, o qual acaba sendo objetivamente tão pouco conhecido pelo cidadão comum.

d) Cultura – Por ser um movimento originado em um subgênero literário, o SteamPunk já traz a reboque todo um zeitgeist, todo o espírito marginal, fascinante e familiar de uma era na qual muitos pressentem que algo está errado e que é preciso buscar no passado os erros que talvez tenhamos cometido e, de alguma forma corrigi-los ou denunciá-los.

Sob este aspecto, o SteamPunk tem o potencial de ferramenta pedagógica e mesmo o de transportar através do tempo o interesse de quem normalmente se interessa pouco por cultura e história, fazendo com que estes resgatem as raízes da história recente através de uma janela para o Século XIX e para um mundo ficcional que torna lúdica esta viagem.

e) Organizações – O Conselho SteamPunk, a SteamPunk Magazine, o ClockWorker.de e todas as manifestações culturais, seja através de grupos, revistas ou websites acabam por dar forma palpável à esta ficção e resignificar tudo o que vem sendo produzido.

Como é o movimento no Rio de Janeiro? É maior que o de São Paulo?

O interesse no gênero no Rio de Janeiro é grande e, no entanto, o movimento não é tão pronunciado quanto o de São Paulo, ao menos no que se refere ao trabalho das Lojas regionais.

É importante que se compreenda que cada Loja do Conselho SteamPunk tem uma personalidade própria e que os talentos de uma Loja podem ser sensivelmente diferentes dos talentos de outra. Isso acontece, sobretudo, devido a uma Loja ser a soma dos talentos de seus membros.

A Loja Paraíba é grande no RPG; a Loja São Paulo é notável no que se refere ao atendimento à mídia e eventos; a Loja Paraná é especialmente destra com a promoção de “oficinas”. É possível notar claramente estas diferenças ao observar de perto cada Loja do Conselho SteamPunk.
A Loja Rio de Janeiro vem produzindo tecnologia de apoio para todas as outras Lojas e o projeto gráfico de cada um dos inúmeros websites do Conselho SteamPunk, bem como a gestão de toda a infra-estrutura.

Felizmente, temos começado a estabelecer parcerias e conseguir contato com entusiastas que têm experiência com a promoção de eventos, o que pode mudar um pouco o cenário do movimento por aqui.

Conte mais sobre suas iniciativas Steambook, Steamgirls e aoLimiar.

Temos, hoje, além do site do Conselho SteamPunk – http://www.steampunk.com.br – sites para cada uma das Lojas regionais, cujos endereços são alcançados pela substituição do “www” pela UF de cada estado. Sendo assim a Loja Paraná, por exemplo, tem o endereço http://pr.steampunk.com.br.

SteamPunk.com.br – Site do Conselho SteamPunk

SteamBook.com.br – Rede Social Brasileira de SteamPunk que conta com mais de 200 membros e mais de uma centena de blogs do gênero nela hospedados

SteamCon.com.br – Site de Eventos SteamPunk e onde se encontra a lista de artistas que compõe a Liga de Artífices SteamPunk

SteamGirls.com.br – Site de SteamPlay, o cosplay Vitoriano e SteamPunk feminino

SteamBoys.com.br – Site de SteamPlay, o cosplay Vitoriano e SteamPunk masculino

aoLimiar.com.br – Rede Social de Editoras, Escritores e Leitores de Literatura Fantástica, uma iniciativa cultural do Conselho SteamPunk destinada a ser uma ferramenta de divulgação, colheita e documentação de talentos da literatura fantástica nacional. Hoje a rede conta com cerca de 200 participantes, sendo estes escritores, editoras e leitores. Também há cerca de 30 livros virtuais reunindo material de escritores consagrados e aspirantes.

É possível discorrer por muitas páginas acerca de cada uma destas iniciativas, mas creio que só por visitar cada um dos sites o entusiasta vá perceber as intenções do Conselho SteamPunk no que se refere a produção cultural de um modo geral e não apenas àquilo que remete a cultura SteamPunk.

Quais são os planos para este fim de ano e para o próximo? Pretendem organizar um evento de âmbito nacional?

O Conselho SteamPunk organizou um evento nacional em 2009, denominado Virtual SteamCon 2009, cujos resultados podem ser vistos em http://steamcon.com.br/virtual-2009/.

Um evento presencial em âmbito nacional só seria possível com apoiadores e patrocínio, o que pode ser bastante complicado em termos logísticos e burocráticos, mas nos propuseram algo do tipo. É esperar e ver que empresa ou instituição gostaria de nossa ajuda.

Sobre “2010: O Ano do Vapor”, lembro que quando cunhei a frase, no início do ano, creio que pode ter parecido um tanto otimista, no entanto, não nos parece. A quantidade de eventos SteamPunk, a publicação da antologia “Vapor Punk” e o lançamento de “Difference Engine” no Brasil são um reflexo disso.

O Conselho SteamPunk está tentando fazer sua parte e creio que o público vai ficar satisfeito com o que estará disponível até o fim do ano. Dentre outras coisas, estamos planejando a Virtual SteamCon 2010, o lançamento de uma ferramenta exclusiva para divulgação de produtos de artistas da Liga de Artífices SteamPunk e iniciativas multimídia que, creio, serão muito importantes para popularizar ainda mais a cultura e o movimento SteamPunk.

Quais são seus autores de referência? Que obra(s) você citaria para exemplificar e resumir o Steampunk?

Embora não possam ser acusados de serem autores SteamPunk, Julio Verne, HG Wells, Conan Doyle, Mary Shelley e Mark Twain podem ser considerados referências para o gênero SteamPunk e certamente leitura importante para aqueles que desejam produzir cultura SteamPunk. Outros autores pré-steampunk mais modernos seriam Harry Harrison, Keith Laumer e Ronald Clark.

A partir da década de 70, Michael Moorcock, Tim Powers, James Blaylock e, logicamente, KW Jeter – que batizou o gênero SteamPunk – formam, junto com William Gibson e Bruce Sterling, o elenco que compõe a bibliografia básica do SteamPunk.

É importante acrescentar que, no Brasil, temos já contistas de grande talento – consagrados ou não – produzindo para publicações já lançadas e mesmo através da internet. Eu ressaltaria os nomes Gianpaolo Celli, Fábio Fernandes, Antonio Luiz M. C. Costa, Alexandre Lancaster, Roberto de Sousa Causo, Claudio Villa, Jacques Barcia, Romeu Martins, Flávio Medeiros, Octavio Aragão, Flávio Medeiros, Eric Novello, Carlos Orsi e Gerson Lodi-Ribeiro.

Como você conheceu o Steampunk?

Como quase todo entusiasta vai te dizer, ao conhecer o SteamPunk você sente que se encontrou ou que aquilo tudo lhe é muito familiar. O fato é que convivemos com elementos estéticos que remetem ao SteamPunk todos os dias, seja através de monumentos históricos do Século XIX ou obras literárias, televisivas ou cinematográficas de ficção científica com elementos ou quase totalmente orientadas ao gênero.

Quando finalmente é exposto ao nome SteamPunk, o entusiasta sente como se já conhecesse o estilo. Deparei-me pela primeira vez com o conceito ao descobrir o RPG GURPS SteamPunk, em meados da década de 1990.

O fato é que para mim e para muitos dos entusiastas que conheço, é difícil separar o SteamPunk do Conselho SteamPunk ao menos no Brasil e é por isso que revisito sua pergunta inicial para afirmar que a melhor descrição do Conselho SteamPunk é: “Um grupo dedicado a inspirar, promover e produzir ficção científica do Século XIX no Século XXI, através de todas as formas de expressão às quais se tenha acesso.”

A autora

Lidia Zuin (@lidiazuin) é estudante de Comunicação Social e Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, autora da iniciação científica “Wired Protocol 7 – um estudo sobre Serial Experiments Lain e a alucinação consensual do ciberespaço” e do conto “Dies Irae”, publicado na coletânea Imaginários 3, da Editora Draco.

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Lidia Zuin
lidiazuin@steampunk.com.br